quarta-feira, 14 de abril de 2010

Os ciclistas irritam

Os ciclistas irritam. São rebeldes que questionam o sistema, não adotam a matriz energética petrolífera e não geram a sua cota diária de poluição. Não precisam obter uma permissão ou uma carteira de habilitação para percorrer as ruas da cidade, ofendem o bom senso. E, pior, eles representam um modelo que não se encaixa na lógica da nossa sociedade. Não pagam IPVA, seguro obrigatório, licenciamento, pedágio. Escapam de contribuir com o ICMS e as dezenas de taxas e impostos escondidos em cada litro de combustível. Não precisam fazer vistoria, nem frequentar cartórios para reconhecer assinatura ao comprar ou vender os veículos. Nem emplacamento é necessário. Definitivamente, nossa sociedade não pode aceitar facilmente esse tipo de românticos, que atrapalham o trânsito dos verdadeiros donos da rua, os automóveis. São tão perigosos que defendem uma vida mais sadia, fazem exercício, poucos são obesos e, se tudo isso não fosse muito, têm a petulância de se agrupar em movimentos, como a Bicicletada, para, desta forma, fazer proselitismo e tentar atrair novos adeptos, divulgando como uma religião um modelo de transporte mais econômico, menos poluente e ainda mais sadio. É claro que este tipo de iniciativa deve ser erradicada da nossa cidade. Porém, devemos agradecer e parabenizar as autoridades. Alertadas para a grave ameaça que os ciclistas representam, desenharam e colocaram em marcha ambicioso projeto para acabar com ciclistas e as suas horríveis bicicletas, eliminando completamente das nossas ruas a estes inimigos do CO2. O objetivo é reduzir a presença em Curitiba ao único lugar a que deveria ficar restrita e de onde não deveria ter saído nunca: o Museu de Bicicleta (em Joinvile). O projeto, planejado sorrateiramente pelos gabaritados expertos em mobilidade urbana, prevê extinguir as bicicletas e os ciclistas da cidade em menos de uma década. A construção de ciclovias que unem o nada a coisa nenhuma, condenando os reticentes a ir e voltar no mesmo pedaço de rua, como onças numa gaiola pequena demais, sem poder sair dela. O projeto prevê a priorização dos carros em todas as ruas importantes e, inclusive, a permissão para que carros ocupem as calçadas, algo proibido para os ciclistas. Se isto não fosse suficiente, se estimulará com a falta de sinalização adequada o choque fortuito entre carros e ciclistas, com os resultados já de todos conhecidos, até levar a extinção aos ciclistas e livrar Joinville desta praga tão perigosa.

Adaptado de comentariosdejoinville

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