quarta-feira, 14 de abril de 2010

Curitiba pode ser considerada a cidade mais sustentável do mundo?

Curitiba acaba de ser eleita a cidade mais sustentável do mundo pelo Globe Forum, da Suécia. Batendo cinco outras finalistas, Sydney, na Austrália, Malmö, na Suécia, Murcia, na Espanha, Songpa, na Coreia do Sul, e Stargard Szczecinski, na Polônia, a capital do Paraná levou o Globe Award Sustainable City, de 2010. Para muitos curitibanos e brasileiros que hoje fazem turismo em Curitiba, atraídos pela sua fama, a cidade é considerada agradável de se viver se comparada com o caos urbano de outros grandes centros do País emergente. Não podemos negar algumas conquistas. No entanto, a pergunta que se faz é se a cidade realmente faz jus a este prêmio máximo, diante de tantos problemas que hoje seus moradores enfrentam? Também há de se indagar, de que forma os membros do júri comprovaram o alcance dos critérios estabelecidos pelo concurso?

Acredito que grande parte do problema está na definição do que realmente significa a palavra “sustentável”, hoje usada e abusada por governantes, marqueteiros e a mídia superficial. Estamos entrando na era de que tudo é sustentável, alguns exageram no pleonasmo e se declaram “eco-sustentáveis”. A autopropaganda tomou conta do mercado, onde o slogan é o que importa. Nada se comprova, mas tudo se afirma. Joseph Goebbels, o ministro da propaganda de Hitler, foi professor nesta tática: “uma mentira cem vezes dita, torna-se verdade”.

Os prefeitos que passaram pelo Centro Cívico sempre souberam usar bem a mídia: cidade do primeiro mundo, cidade ecológica, cidade modelo, capital social, foram alguns hiper-adjetivos propagados aos quatro ventos.

Analisando alguns critérios julgados pelo Globe Forum fica ainda mais difícil acreditar que este prêmio foi justo. No regulamento se pede que a cidade deveria demonstrar que, nos últimos dois anos, houveram várias iniciativas para se poder alcançar um “futuro sustentável”. Algo que é pouco visível, diante das medidas pouco eficazes que as duas últimas gestões municipais implantaram.

Um critério tratava da “preservação de recursos naturais”, o que em grande parte não é o caso de Curitiba, visto que temos todos nossos rios e lagos podres e contaminados. Certamente, não vejo o jurado analisando um tubo de ensaio para constatar ou não a presença de coliformes fecais nas águas curitibanas. Sem mencionar o quadro caótico que se encontra o problema da destinação de resíduos, onde assistimos por meses uma indefinição do problema, com medidas paliativas e certamente pouco sustentáveis.

No critério de “infraestrutura técnica” e “mobilidade”, Curitiba, certamente, não teve inovação nos últimos dez anos. Vemos um crescimento desproporcional da frota de automóveis, sendo considerada hoje a cidade com maior número de veículos per capita do Brasil. A contrapartida ainda não apareceu, pois não temos ciclovias para servir o trabalhador, um transporte público que não consegue atender o aumento de passageiros e uma promessa de metrô que acabou no buraco dos custos.

Já na meta “inovação e inteligência social”, é difícil saber como nossos representantes conseguiram comprovar isto. Afinal, nosso próprio prefeito, Luciano Ducci, que agora acabou de assumir a cadeira oficial, declara que a famosa Linha Verde não foi feita como deveria ser, pois não havia recursos suficientes, se tornando um engarrafamento só. Somente para complementar, esta via recentemente recebeu também um prêmio de transporte sustentável, dado por um instituto dos Estados Unidos. Os membros do comitê certamente a visitaram num domingo, fora do horário de pico.

O que se pode concluir é que Curitiba ainda colhe dividendos de um passado glorioso, tendo um presente bastante duvidoso do ponto de vista da sustentabilidade e um futuro ainda mais incerto. Troféus são bonitos nas prateleiras, mas pouco contribuem para mudar a realidade.

Por Eloy Fassi Casagrande Júnior é professor da área de Inovação Tecnológica e Sustentabilidade da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), coordenador do Escritório Verde da UTFPR, bacharel em Design pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), doutor em Engenharia de Recursos Minerais e Meio Ambiente pela Universidade de Nottingham (Reino Unido) e pós-doutor em Inovação Tecnológica e Sustentabilidade pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa (Portugal).

Fonte: Parana-Online

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