terça-feira, 27 de julho de 2010

Onda sustentável invade a bolsa

Investidores querem ações de empresas comprometidas com questões sociais e ambientais. Para o Ethos, as corporações estão atentando para as questões que vão influenciar os negócios nos próximos anos.
 
Quais são os fatores que fazem um investidor comprar ações de uma determinada companhia no mercado de capitais? A perspectiva de crescimento, o potencial de um setor, a solidez de uma marca? Pois saiba que, além desses quesitos, cada vez mais os interessados em apostar no sobe e desce das bolsas têm considerado um indicador antes de mirar um alvo específico para aplicar seus recursos. É o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), que mede o grau de envolvimento das organizações com questões como responsabilidade social e comprometimento ambiental. O indicador, inclusive, tem maior valorização do que outros mais famosos. Enquanto no último ano a tradicional carteira de ações baseada no Ibovespa subiu 21,12%, o ISE registrou um crescimento de 28,38%.

A ideia, que surgiu em 2005 na Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo (BM&FBovespa), segue de perto uma tendência mundial, em que a rentabilidade de uma empresa está estreitamente relacionada com o comprometimento que ela tem com o social, o ambiental e aspectos relacionados à governança corporativa.

O interesse das empresas de ter seus papéis negociados com base no ISE pode ser medido pelo aumento da carteira composta por companhias tidas como sustentáveis. Quando o índice entrou em vigor, eram negociadas 33 ações de 28 empresas. Cinco anos depois, essa carteira já conta com 43 papéis das 34 companhias emissoras das 200 ações mais negociadas na Bolsa. Essas firmas, que atuam nos mais variados ramos da economia, como telecomunicações, energia, construção, bancos, aviação e siderurgia, têm um valor de mercado que chega a R$ 730 bilhões. “Quando o ISE foi lançado, havia apenas dois fundos que tinham como foco a sustentabilidade. Hoje, já existem 10”, conta a coordenadora de Índices de Preços da BM&FBovespa, Cristiane Quinta.

Dados da BM&FBovespa mostram que aqueles que apostaram em empresas com ações atreladas ao índice não têm do que reclamar. Desde quando foi criado, o indicador sofreu uma variação positiva de 85% na bolsa.

Boa imagem
“A procura por investimentos socialmente responsáveis não é recente e vem crescendo ao longo do tempo. As empresas sustentáveis geram valor para o acionista no longo prazo, pois estão baseadas num tripé que envolve o meio ambiente, a sociedade e a solidez econômica”, conta o diretor de renda variável do Bradesco Asset Management, Herculano Aníbal Alves, acrescentando que as companhias que levam o “selo” ISE são muito bem vistas na Bolsa. “Acho que todas as companhias que têm papéis na BM&FBovespa querem fazer parte do índice. Isso agrega valor à marca e à sua imagem perante o consumidor. Se o investidor tiver que optar por duas empresas, é claro que ele vai naquela que tem uma melhor reputação dentro desses quesitos”, disse.

No entanto, não é qualquer empresa que pode fazer parte desse seleto rol das ações que têm o índice como referência. As companhias que desejam se inserir na carteira ISE — que é renovado no fim de todos os anos — devem passar por um longo e rigoroso processo de avaliação. Cabe a um Conselho Deliberativo, formado por instituições ligadas ao setor financeiro e socioambiental, examinar com lupa o histórico e a atuação das corporações levando em consideração diferentes critérios como políticas, indicadores de comprometimento, gestão de programas e metas sustentáveis, impacto que causam ao meio ambiente, entre outros.

Preocupação mundial
De acordo com a diretora de sustentabilidade da BM&FBovespa, Sonia Favaretto, o indicador reflete o momento vivido pelo mundo, de preocupação em torno de assuntos relacionados ao meio ambiente e boa governança. “Quando temos eventos traumáticos na natureza, como o vazamento de petróleo no Golfo do México ou o furacão Katrina — que impactou, e muito, os negócios das seguradoras —, somos deparados com uma realidade que nos faz refletir sobre os possíveis riscos de se investir num negócio que não é comprometido com o lado social e ambiental. Por isso, com a mudança de postura que o mercado vem adotando, os investidores estão passando a se importar cada vez mais com questões relacionadas à sustentabilidade. A tendência é que se invista cada vez mais nas empresas ISE, fazendo com que elas rendam mais”, declara.

Para o gerente de comunicação do Instituto Ethos, João Gilberto Azevedo, aos poucos, o ambiente empresarial atual está se atentando para as questões que vão influenciar, inclusive, os próprios negócios nos próximos anos, como os relacionados à distribuição da riqueza e ao uso predatório dos recursos naturais. “Aquelas companhias que têm uma estrutura mais robusta estão colocando esses temas rapidamente em sua agenda estratégica.
Fonte: correiobraziliense

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