quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O estupro diário da natureza

A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, reunida em Estocolmo de 5 a 16 de junho de 1972 foi atenta à necessidade de um critério e de princípios comuns que ofereçam aos povos do mundo inspiração e guia para preservar e melhorar o meio ambiente humano. Proclama, entre outros, que: a) o homem é ao mesmo tempo obra e construtor do meio ambiente que o cerca, o qual lhe dá sustento material e lhe oferece oportunidade para desenvolver-se intelectual, moral, social e espiritualmente.
Em larga e tortuosa evolução da espécie humana neste planeta chegou-se a uma etapa em que, graças à rápida aceleração da ciência e da tecnologia, o homem adquiriu o poder de transformar, de inúmeras maneiras e em uma escala sem precedentes, tudo o que o cerca; b) o homem deve fazer constante avaliação de sua experiência e continuar descobrindo inventando, criando e progredindo.
Hoje em dia, a capacidade do homem de transformar o que o cerca, utilizada com discernimento, pode levar a todos os povos os benefícios do desenvolvimento e oferecer-lhes a oportunidade de enobrecer sua existência.
Aplicado errônea e imprudentemente, o mesmo poder pode causar danos incalculáveis ao ser humano e a seu meio ambiente. Em nosso redor vemos multiplicarem-se as provas do dano causado pelo homem em muitas regiões da terra, níveis perigosos de poluição da água, do ar, da terra e dos seres vivos; grandes transtornos de equilíbrio ecológico da biosfera; destruição e esgotamento de recursos insubstituíveis e graves deficiências, nocivas para a saúde física, mental e social do homem, no meio ambiente por ele criado, especialmente naquele e que vive e trabalha; c) nos países industrializados, os problemas ambientais estão geralmente relacionados com a industrialização e o desenvolvimento tecnológico; d) o crescimento natural da população coloca continuamente, problemas relativos à preservação do meio ambiente, e devem-se adotar as normas e medidas apropriadas para enfrentar esses problemas. De todas as coisas do mundo, os seres humanos são a mais valiosa; e) chegamos a um momento da história em que devemos orientar nossos atos em todo mundo com particular atenção às conseqüências que podem ter para o meio ambiente. Por ignorância ou indiferença, podemos causar danos imensos ou irreparáveis ao meio ambiente da terra do qual dependem nossa vida e nosso bem-estar.
Interessante que o homem, neste documento, aparece como “a coisa mais valiosa do mundo”. Ainda segundo ele, os seres humanos são os que “promovem o progresso social, criam riqueza social, desenvolvem a ciência e a tecnologia e, com seu árduo trabalho, transformam continuamente o meio ambiente humano. Com tais avanços na produção, na ciência e na tecnologia, a capacidade do homem de melhorar o meio ambiente aumenta a cada dia que passa”.
Mas será mesmo? Percebo em alguns pontos do documento mais uma prova cabal da arrogância e do egocentrismo de uma espécie que continuamente, em nome do progresso e do desenvolvimento econômico está destruindo o planeta. Como será o homem ‘a coisa mais valiosa do mundo’ se por si só não consegue sobreviver sem desmantelar o que o cerca? Suspeito desta afirmação. Penso que valioso seja alguém que tenha coragem para subsistir sem aniquilar, extinguir ou abater nenhuma outra espécie que faça parte do mesmo pedaço da terra em que viva.
Nada contra o documento, muito pelo contrário, mas para mim, valiosa é a Terra, seus vegetais, seus animais, tudo o que nela estava -e ainda está- antes do homem chegar e por nela a sua mão devastadora. Cidades onde administradores públicos afirmam que há árvores sem função ecológica e as destroem para em seu lugar, de forma equivocada, espalhar concreto para que mais carros andem, e que arrancam árvores nativas para construir canchas de rodeio em nome de uma pseudo-tradição, não podem ser consideradas modernas. Moderna é uma cidade que amplia seus espaços ao humano, dialoga com o meio ambiente, preserva o ar, não escraviza nem explora os animais, e que retira os carros das ruas deixando a cidade aos seus verdadeiros donos: os cidadãos.

De Vista-se

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